O que era para a realização de um sonho dos moradores do bairro Nacional está se transformando em pesadelo. A extensão da avenida Farquhar, que ligaria o bairro ao centro da cidade, está paralisada, assim como grande parte das obras inacabadas da capital. A saga teve início em setembro de 2006. Na ocasião foram anunciadas para a primeira etapa do serviço a colocação de aterro e a construção de bueiros para o escoamento das águas vindas do igarapé dos Tanques. Já para a segunda etapa, estava no projeto o restante do aterro e o asfalto.
foto: Cristiane Lopes
Mas logo na primeira etapa o sonho dos moradores, de ficar mais próximos do centro da cidade e não mais precisar pagar pedágio para ter o direito de atravessar o canal dos Tanques, na época das chuvas, foi por água a baixo, assim como as estruturas de concreto feito pela a empresa responsável pela obra.
Regiane dos Santos diz que a obra foi mal projetada e mal calculada, o que é uma tristeza para nos moradores. "Quando começaram a mexer, ficamos muito felizes achando que logo estaria tudo pronto, mas quatro anos se passaram e nada”, disse.
O morador conta que já procurou várias vezes a Secretaria Municipal de Obras (Semob) para pedir que o trabalho fosse retomado, mas não obteve sucesso. O que ouviu foi a informação de que os trabalhos não tem nem previsão para recomeçar. “Já procurei diversas vezes o secretário Marcelo Fernandes, mas não é fácil falar com ele. Essa semana mesmo, ouvi na rádio Caiari que não existe data prevista para o reinício das obras”, afirmou. O valor da obra que está paralisada é de 1 milhão e 700 mil reais.
Outro problema
Outra reclamação dos moradores do bairro Nacional é a quantidade de lixo que vem sendo jogado no local. Segundo eles é comum a cena de pessoas deixando lixo e entulho na obra abandonada. O que revolta ainda mais os moradores. Agora o prefeito Roberto Sobrinho (PT) anunciou que as obras serão retomadas nos próximos dias.
Moradores são ameaçados de despejo na capital
A dona de casa Isaura Techi, de 29 anos, embala com cuidado os poucos utensílios que tem. Mãe de duas meninas, ela se diz preocupada pelo fato de não saber para onde levará as crianças quando a família for despejada. Isaura mora há oito meses à avenida Farquar, logo após a Costa e Silva. Ela conta que a renda do marido, o vendedor ambulante Raimundo Gomes da Costa, não é suficiente para pagar aluguel e comprar comida, por isso são obrigados a morar em tais condições. Dentro do casebre de madeira, de dois cômodos, os poucos móveis serão retirados a qualquer momento pela prefeitura.
“È muito difícil para a gente essa situação. Minha filha me pergunta: mãe para onde nós vamos? E eu não sei responder. A prefeitura está fazendo pressão para a gente sair daqui, mas não diz para onde nós vamos. Não temos como pagar aluguel”, reclamou Isaura Techi.
Foto: Cristiane Lopes
Além dela, outras cinco famílias também serão despejadas pela prefeitura. Elas estão bem à margem da avenida Farquar, que está sendo ampliada pelo município. Na realidade ninguém se nega a sair, mas a indefinição da prefeitura preocupa a todos. As famílias não sabem para onde serão levadas. A maioria acha que ficará mesmo na rua.
É o caso da indígena Tatiane Diahuí. Ela conta que foi obrigada a vir da aldeia onde morava, na Rodovia Transamazônica, km 110, para cuidar do filho de apenas um ano e meio de idade. A criança tem síndrome de Dow. Devido ao problema, o menino sofre com algumas complicações de saúde e precisa ter uma dieta balanceada. Ele deve tomar leite de soja, que chega a custar 50, 00, precisa de arroz e açúcar integral.
Segundo Tatiane, o salário que ela ganha como doméstica mal dá para comprar comida e os medicamentos para o filho pequeno. Acontece que, além disso, ela ainda tem mais quatro filhos que precisa sustentar. Como não tem condições de pagar aluguel, se viu obrigada a morar em um dos barracos à beira do canal dos Tanques.
O representante dos moradores, José Francisco dos Santos, disse que vê má fé por parte das autoridades municipais. Ele recomenda que ninguém assine documentos sem verificar o que realmente a prefeitura está propondo. “Já fomos diversas vezes na Secretária Municipal de Meio Ambiente e na Secretaria Municipal de Regularização Fundiária para conseguir um lugar adequado para esses moradores, mas nunca conseguimos nada”, explicou.
Enquanto isso, os moradores aguardam apreensivos o momento em que terão suas casas derrubadas pelas máquinas da prefeitura. Eles dizem esperar que pelo menos a madeira não seja quebrada. “Elas são velhas, mas nós tivemos que pagar por elas”, alegam.
Sugestão enviada por Isaura Techi, moradora do bairro Nacional